No alto do meu castelo de 28 anos, olho para trás e vejo um caminho repleto de lágrimas e sorrisos, de alegrias e tristezas, de duvidas e de certezas...mas acima de tudo de muita esperança...
A vida é dura...será sempre...
Sou uma princesa como tantas outras, que deseja apenas ser feliz!
O presente de hoje jamais será o passado de ontem nem o futuro do amanhã...
As minhas lágrimas por vezes são uma consequência dos risos dos outros...mas jamais permitirei, que os risos desses mesmos, surjam pelas lágrimas que eu derramo...

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Lei da sobrevivência


Nascida e criada no campo, adoro a natureza, o verde, a calma...
Mesmo assim não me recordo de algum picnic feito em família, talvez porque picnic seja sinónimo de passeio, e os meus pais nunca tiveram oportunidade de saber o que isso significava. mas os farnéis feitos para se levar pro campo para comer a meio do trabalho, a mim, sabiam-me a picnic.

Talvez por isto eu tenha planeado este picnic de uma forma tão emotiva...Nada podia faltar! O meu coração sentia-se feliz...calmo...e cheio...muito cheio...
Os rissóis e os panados bem fritos, colocados dentro duma caixinha sobre umas folhas de alface bem verdinha...
Bacalhau passado por ovo, também ele bem frito e estaladiço.
Uma bôla de bacon e queijo, muito queijo bem derretinho.
Ovos cozidos com cascas de cebola para lhes dar aquela cor.
Um chouriço de colorau.
Um tachinho de arroz branco em papel de jornal para ficar quentinho.
E pão...broa e bolinhas acabadinhas de comprar.
Uma garrafa de água fresca, e um pacote de ice tea de pêssego.
Melancia, uvas, ameixas e uns pêssegos carecas.
Tudo dentro dum cestinho juntamente com a manta azul e lá fomos nós os três.

Paramos num alto, tinha monte dum lado, pinheiros e muito tojo. Abandono do outro, ervas secas e árvores resequidas a pedir água. Mas bem no meio havia um campo tão verdinho...com uma erva tão fresca e fofa!
Colocamos a manta no chão...Eu sentia-me tão feliz!
Olhei para o meu marido e só consegui fazer um sorriso, ele percebeu tudo, e respondeu-me com um outro sorriso e com um brilho especial no olhar.
O nosso pequenito começou a correr...de repente começou a rebolar naquela erva fofa. Ria-se...ria-se tanto! Umas gargalhadas como nunca tinha ouvido...estava tão feliz o miúdo! E eu sentia-me quase a rebentar de felicidade!
O pai correu atrás dele, e ambos rebolavam pelo chão...as gargalhadas faziam eco, um eco maravilhoso!
O pai deitado no chão de costas ergueu-o ao ar, e ele parecia voar...mas um voar lento, mágico! Quando caiu de novo nos braços riu-se tanto! E eu soltei uma enorme gargalhada...mas que gargalhada aquela...não me lembro de uma gargalhada tão feliz, tão pura, tão alegre!!!
Algo estava diferente e eu sentia-o...sentia-me feliz demais...somo se nunca o tivesse sido antes...Senti-a os pulmões a respirarem um ar tão puro...tão leve...tão bom!

Fui ter com eles...o pai segurou o braço direito do Tiago e eu o esquerdo...Levantava-mo-lo no ar e depois de regresso ao chão...e o nosso filho ria tanto! Olhava pro pai, olhava pra mim e pedia mais...
Um ventinho muito calminho fazia o cabelito dele voar...aquele cabelo fininho, tão loirinho reluzia ao sol...O nosso filho é lindo! E eu a mulher mais feliz do mundo!

Fomos andando em frente os três de mãos dadas...Tinha-mos um precipício grande na nossa frente, também ele verde...no fundo mais uns campos verdes, sem árvores e cobertos de "pampilos" amarelos...e lá ao fundo, não é que se avistava o mar??? Uma barra azul, um azul tão azul!!!
O filhote esticou o braço e perguntou: "É a praia?" O pai respondeu prontamente que sim. E eu senti algo estranho...esta pergunta deixou-me tão emociada e eu não percebi porquê! Rapidamente baixei-me dei-lhe um beijinho na testa e abracei-o. Ele bateu-me com a mãozita nas minhas costas e deu-me um beijinho do meu lado esquerdo da cara... Que beijio tão quentinho este...tão diferente de qualquer outro que me tenha dado antes...O pai abraçou-nos aos dois...e apertou-nos tanto contra o seu peito...senti o coração dele bater!
E de novo senti-me tão cheia...tão feliz...tão completa!!!

De repente o pé escorregou-me pra ravina, estremeci...dei um salto e muito rapido vi-os ficar longe de mim...os dois...estiquei o braço pra eles...

....e senti o lugar vazio...estava sozinha na cama! Deitada no lugar do marido, sobre a almofada dele fiquei ali...com as lágrimas a correr...sem conseguir respirar...o ar não entrava...senti-me sufocar...senti mesmo...
Não conseguia mexer-me...estava totalmente anestesiada...o corpo não reagia...
Assustei-me...por milésimos de segundos pensei que estava a morrer...e senti-me bem!!! Senti que se calhar até queria...
Mas um fôlego de ar entrou-me de repente na boca, e obrigou-me a viver...

E aqui estou eu...a sobreviver à vida porque esta assim me obriga.
Por vezes a lei da sobrevivência não está nas nossas mãos...


(Filhote da minha vida, como adorei sentir-te assim esta noite...aparece nos meus sonhos todos os dias, porque apesar da dor do acordar, os pequenos momentos em que te sinto, que te vejo, que te toco, enchem-me o coração...)

2 comentários:

  1. Leio-te sempre...mas tudo o que eu possa dizer, é tao pequenino perto do sentimento com que escreves...
    Deixo-te um enorme beijinho...

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  2. Princesinha (posso tratar-te assim?) tão bonito o teu sonho e tão bom que se consigam encontrar!
    Escreves tão bem, de forma tão dorida tão penosa mas com tanto amor...
    Um grande beijinho para ti

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